Avenda do pequeno nariz vermelho ajuda a conseguir dinheiro para pagar aos doutores palhaços que animam as crianças internadas em 13 hospitais. Esta é uma das ferramentas de angariação de fundos que a Operação Nariz Vermelho desenvolve diariamente. "Todos os dias temos de lutar para ter donativos que nos permitam cumprir o orçamento", aponta Carlota Mascarenhas, do departamento de fundraising da Nariz Vermelho. Uma das poucas instituições de solidariedade social que em Portugal sobrevive unicamente com donativos. De empresas, mas cada vez mais de particulares e "de projetos de financiamento", explica a responsável.
A ideia de pedir donativos para garantir a sustentabilidade financeira das organizações é cada vez mais defendida por quem trabalha neste setor. Mas pedir dinheiro às pessoas e conseguir atingir os objetivos também implica seguir algumas regras.
Primeiro é preciso encontrar as pessoas que se possam identificar com a missão da instituição em causa, convidá-las a conhecer o trabalho que aí se faz. No fundo "envolvê-las na causa", aponta Madalena da Cunha, da Call to Action, uma empresa de consultoria em fundraising e que hoje organiza, na Gulbenkian, o 8.º seminário sobre o tema. "Os grandes dadores são tratados à pinça. É preciso identificar as pessoas que podem estar interessadas em ajudar a causa. Ou então convidá-las para fazer coisas que gostam: jogar golfe, um cocktail, um jantar, por exemplo".
Neste primeiro contacto, a melhor opção não é partir para o pedido de dinheiro. "Deve começar-se por pedir conselhos sobre o funcionamento da organização e só mais tarde quando as pessoas estiverem envolvidas na causa é que se pede o donativo", acrescenta Madalena da Cunha.
Estes grandes dadores podem ser particulares ou empresas. E há casos em que a instituição oferece também algo em troca dos donativos. É exemplo disso, o Convento dos Cardaes - que acolhe mulheres adultas com multideficiência - que permite o uso dos seus espaços para eventos. Um privilégio, explicam na sua página online, para quem der donativos a partir dos 2000 euros, que passam também a contar com os benefícios fiscais previstos na lei do mecenato (ver caixa ao lado).
Criar o hábito de dar
Em Portugal, o sistema de angariação de fundos para instituições do setor social ainda não está muito difundido. Neste campo, "a culpa não é da sociedade civil. O que aprendemos nas regras de fundraising é que é a organização que tem de criar este hábito nas pessoas", aponta Madalena da Cunha.
A sócia da Call to Action, que aconselha instituições em matérias de angariação de fundos e marketing social, lembra que esta área é fundamental para a sustentabilidade financeira das mesmas. "Há organizações internacionais que em Portugal vivem de donativos nacionais e está na hora das instituições portuguesas fazerem o mesmo". Para tal as organizações têm de dizer às pessoas que existem e "venderem-se junto de quem pode ajudar".
Uma atitude que ainda não é predominante em Portugal: "As pessoas dizem-nos muitas vezes que nunca contribuíram porque nunca lhes pediram", lamenta Madalena da Cunha. Lembrando que se por um lado "sabemos que as instituições de solidariedade não devem depender do Estado, por outro lado não há donativos regulares. Para gerar receitas é preciso que as pessoas contribuam". Do lado das instituições, cabe-lhes desenvolver equipas exclusivas para se dedicarem ao fundraising, contactando possíveis dadores, organizando eventos de angariações de fundos, vendas de Natal, candidatando-se a projetos de financiamento, usando plataformas de crowdfunding.
Porém este é um setor diferente. Já que não é só quem recebe os donativos que ganha alguma coisa. "Os dadores mais envolvidos nas causas sentem um enorme prazer de ajudar. Pedir dinheiro não custa, mas quem pode dar, sente-se bem", aponta Madalena da Cunha. Este é um mercado em que o "fundamental é trazer as pessoas para a causa e criar empatia com elas".